quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sonhe, minha criança...


Escutava dia-após-dia o mesmo discurso, as mesmas promessas vazias, os mesmos acordos e alianças sórdidas. Tudo com uma nova roupagem que, como sempre, fugia ao que precisava ser feito e se atinha ao desnecessário. Há muito se envergonhava com tudo isto: uma linda imagem do resgate de bravos do sul emoldurada por uma ardilosa jogada política de massiva exposição dos governantes; em outro canto, a omissão de políticos em enfrentar as verdadeiras lutas levava-os, como sempre, a abaixarem suas cabeças e abrirem suas pernas em busca de seu lugar à sombra.

Sua vergonha perpassava por vários aspectos. Em cada recanto que observava, a corrupção estava presente em várias formas e níveis, ao mesmo tempo, seguia sendo profetizada a falácia que o país era laico, multirracial, pertencente a todos, que aceitava bem seus diferentes...

Perguntava-se o por quê que as máscaras nunca caiam, por quê que não jogavam direito, por quê que não eram Homens, por quê que não sangravam como todos os demais, por quê que essa sujeira nunca era lavada...

Sem mais o quê poder fazer nem ter um norte que seguir, sua solução foi ater-se aos seus princípios, retornar aos seus fundamentos, que aos olhos dos demais pareciam inocência ou fundamentalismo. Pensassem o que fosse, a verdade é que se cansara de tudo aquilo, não desejava mais essa imposição, decidira-se por um caminho quase esquecido, que não lhe permitiria ter companhia em sua escolha.

Jamais realizar concessões, jamais compactuar com os sórdidos, jamais aceitar a opressão e a ameaça, amar sua pátria, família e os seus; esses eram seus princípios básicos que por algum tempo foram deixados de lado em prol da idéia de que um mal menor seria melhor que um maior. Essa decisão apenas aumentou sua vergonha, pois naquele momento compactuou com o que sempre lhe pareceu errado. Mesmo um mal menor ainda é perverso e optar por essa via mais fácil é fraqueza, é fugir à luta, é fazer parte e promulgar o problema.

Decidiu dizer não a tudo aquilo, decidiu, por fim, diminuir e retornar ao que era, afastar-se das discussões vazias de significado, ater-se a uma existência mais humana sem os vícios que tanto lhe sopravam aos ouvidos oferecendo-lhe prazeres sem fim. De forma inesperada sabia dos riscos e da agonia de suas escolhas, uma vez que se auto-exilara. Por outro, lado sentia-se mais forte que nunca e finalmente suas possibilidades se tornavam mais que meros anseios pueris.

Ao mesmo tempo, algo mais se fazia presente em seus pensamentos, uma pequena voz a lhe sussurrar por detrás de todas as coisas que lhe tomavam todo seu tempo e energia. Os sussurros lhe pareciam incompreensíveis, pois havia tanto que fazer, nunca havia tempo para seus próprios tormentos. Por outro lado, quando parava com seus obrigações e finalmente sem perceber baixava sua vigília, os sussurros lhe cantarolavam algo que lhe remetia a algo elementar, algo que reconduzia a um princípio, uma renovação, algo mais simples e definitivo, alguma coisa a ver com purificação, algo a ver com...



Já em devaneio a pequenina voz em êxtase toma corpo, se apodera de sua consciência e lhe diz em um modo doce e sutil: é tempo de sonhar com fogo, minha criança!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

tudo pelos mais belos ares

até no amor eu procurei a ficção
por isso ele se explodiu
por isso ele se mantém

talvez

Ensinamentos de Jards

- T, não é preciso nem chegar no cemitério pra ver que vale a pena ser poeta...
- MaS, e aí, você topa ir pro Flamengo?
- Que saco essa sua mania de flamento,T.
- De toda essa regiao comprida, é a que me encanta mais, com a que me identifico mais...
- Bobagem! "A bossa nova não existe. O que existe é samba"
calo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Da série: Ensinamentos de Jards - Quase um Mão Santa

Incrédulo com as reviravoltas do pensamento de Jards, ainda em Botafogo, aquela história incendiava minha mais recente memória.
***
Sujeito inquietante, porém mais inquieto, no Jardim Botânico, Jards nem andava reto.
Sujeito do calçado, amante do passado, em cima de sua amada, lá sim, o mal concreto.

"Qué sujeito mal amado, olha o tamanho desse auto em cima da calçada. T, acho que vou ver Riscado"

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Da série: Ensinamentos de Jards

Passos e mais passos pela vasta Real Grandeza, Jards filosofou e comprou uma maça vermelha.
- a maça é o amor.
- Jards, eu quero comer a maça.
-T, a maça é minha.

Ensinamentos de Jards

Jards, seus olhos continuam vermelhos e eu não tenho lenços de papel.