quinta-feira, 9 de dezembro de 2021




Certa Vez

Certa vez, ela lhe contou sobre seus processos de se permitir que estava vivenciando, como eles a estavam transformando e o papel que ele tinha nessa caminhada. Ela lhe era muito grata pela paciência que ele tinha em lhe esperar, pelo tempo que fosse necessário. O que ela não sabia, porém, é o tanto que ela própria lhe ensinara também com esses processos.

Para ele, ela sempre fora seu local de proteção, onde era verdadeiramente acolhido. Raras vezes em sua vida aprendera lições de formas tão lindas e maravilhosas. Ela lhe pedia paciência para suas demandas. No fundo, ela sabia que ele a esperaria. E ele a esperava. Pois ele sabia, aprendera com ela, que mesmo quando dizia seus anseios mais profundos e até difíceis de serem verbalizados, ela os acolhia. Ouvia, levava seu tempo para assimilá-los, internalizava e voltava. E como voltava...

A grande alegria dele era notar que ela não o havia esquecido, que não havia deixado de lado aquele menino tão cheio de pensamentos sobre coisas confusas e salientes, que dizia tantas e tantas vezes que descobria coisas maravilhosas sobre o mundo com ela, que descobria com ela coisas sobre ele mesmo e como ela mexia absurdamente com ele.

Assim, nunca foi penoso esperá-la. Como também, esperá-la sempre o surpreendeu. Pois quando voltava, sempre estava transformada, maior, mais radiante. Tão radiante que sua luz enchia aquele quarto sem teto com a estrela que trazia consigo. Quando voltava, era sua vez de ficar quietinho, observar e aprender. Aprender com aquela mulher tão poderosa e generosa, que em seus braços sentia uma paz genuína, sua voz o acalmava e o instigava a ir além, e em suas pernas encontrava o melhor lar que já conhecera.

Tudo que ele fazia por ela não era nada comparado a como ela lhe enchia de força, esperança e desejo. Ela lhe ensinou que o amor é fogo, mas que também existem várias formas desse fogo queimar. Eles encontraram seu fogo próprio, uma brasa quente como um vulcão, mas perene e calmo como as mudanças profundas do tempo.

E assim eles viviam esse capítulo tão precioso de suas vidas. Ambos se permitindo. Um passinho de cada vez para cada um. Cada passinho dado gerava o impulso necessário para o outro vir junto, não importando o tempo que fosse necessário para o outro acompanhar. Sempre juntos, sem pressa, pois cada novo lugar tinha suas delícias e suas incertezas acolhidas. Em cada novo lugar se encontravam maiores. Na balança de todas as coisas havia a confirmação de que não erraram em escolher um ao outro nesse lugar tão encantado.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Entre Coisas e Pessoas

Separando os objetos que serão vendidos/doados/descartados, posto que me mudarei em breve, deparei-me com meu antigo celular, um daqueles ótimos Black Berry Pearl 8100, da época em que a marca ditava as regras da telefonia empresarial em rede. Surpreendeu-me o fato de o aparelho ter ligado, mesmo sem ter recebido carga há 2 anos e como a questão da data e hora não havia se alterado (apontava o dia de hoje). Por suposto que o teclado já não funciona mais, por isso o troquei, mas o “mouse” dele, o roller ball, seguia perfeito. No entanto, apagar dado por dado apenas por essa tecla seria tarefa para dias...

Deixei o telefone de lado e fui ver a quantas andava meu antigo notebook, daqueles bons portáteis da Acer, dos tempos que a marca ainda era referência em laptops.
Na época em que o deixei de lado para retornar exclusivamente ao uso do PC, o bichinho, já com certa idade, andava lento, maltratava a paciência para qualquer coisa que fosse fazer. Em sua defesa, não era sua culpa estar lento, mas sim do antivírus, daqueles antigos e muito ruins da Avira que mal protegiam e emperravam tudo. Desinstalado o programa e voilà! O note voltou a funcionar perfeitamente!

Reparei que no laptop havia o aplicativo da Black Berry e resolvi plugar o telefone para tentar ter acesso aos seus dados via PC. Outra surpresa: com poucos comandos consegui ter acesso a todo o telefone e apagar todos os contatos, dados, fotos, mensagens, e-mails e informações presentes nele, assim não me pesará mais descartá-lo com toda minha antiga agenda (e vida) nele.

Minha surpresa se deve ao fato de que mesmo tecnologias antigas e “ultrapassadas” conseguem ser mais intuitivas, simples em sua engenharia, funcionais e duráveis que as novas. Passei anos com o aparelho e com o notebook. Usei o telefone de 2008 a 2013, o note um pouco menos, até 2012. O aparelho está com o teclado sem funcionar, o note segue em perfeito estado.

Todo esse percurso de retirar coisas antigas, revirar gavetas físicas e imaginárias, na verdade, foi também um momento de rememoração e saudosismo dos anos em que essas ferramentas me acompanharam, das vivências passadas e da nova vida que se mostra adiante. Curioso notar que, assim como certos objetos, algumas lembranças seguem intactas, outras completamente esquecidas e descartadas, outras, sem porque, são como aquele objeto qualquer que ficou guardado em algum lugar que não mexemos e quando por fim vamos organizar as coisas perguntamos "por que diabos isso continua aqui ocupando espaço?"

Encontrar nomes de pessoas na agenda que não vejo há quase 10 anos, como também, de pessoas que foram adicionadas há uns dois, traz na memória momentos diferentes, mas que por vezes se confundem. E trazem a pergunta: o que virá a seguir?
Por hora é tempo de separar, de deixar o passado seguir seu caminho, de tentar com menos ser mais e de superar a necessidade de objetos para relembrar dos bons momentos. Será que estamos prontos para mais uma aventura?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Passagens


Por mais que houvesse forças que lhe impusessem um caminho que seguir, ainda assim buscava por uma vida possível, que cumprisse com suas obrigações, mas que não fosse roubado o tempo de ser ela mesma. Podia suportar quase tudo, menos abrir mão de ser quem era. Não que fosse alguém importante, mas se o percurso para se tornar algo ou alguém levasse a uma omissão ou negação de si, significaria que esse destino não era digno de ser trilhado.

Desejava ser vista como uma princesa de um reino só dela, mas se esquecia de ou não sabia se vir como tal. Fazia os pedidos mais impossíveis, mesmo sabendo que nada é tão simples e que o almejado nunca vem apenas com uma faceta. Queria se apaixonar novamente, ter alguém para caminhar ao seu lado, mas sempre lhe parecia que os antigos erros e escolhas voltariam a aparecer.

Não desejava permanecer ali por muito mais tempo. De algum modo, algo a impelia a seguir, a não fixar raízes, a não se aproximar. Nunca explicara seus reais motivos. Nunca dissera por que veio. Sua própria presença era um mistério. Talvez seus motivos fossem insignificantes, talvez revelassem tudo. O fato é que não havia como lhe acompanhar. Estava sempre um passo à frente, sempre com o escudo levantado, sempre preferindo a distância. 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Então me lembro daqueles grandes, redondos e manhosos olhos.


Quando os sons das palavras não ditas me impelem às linhas um sussurro se faz presente: aceite o que é bom... 

Às vezes é tão difícil se ater a isso...

Mas então me lembro daqueles grandes, redondos e manhosos olhos tão lindos pedindo por atenção... Nada parece mais óbvio. Minha mão está estendida e a decisão tomada. Não é algo para se arrepender ou que demande um grande esforço ou valor a ser pago, basta permitir-se. Mas ainda assim, é um caminho complicado até esse ponto do permitir-se.

Muitas pessoas se escondem atrás de uma imagem que desejam transmitir ou em suas obrigações como bom funcionário, pessoa ética e moral. Pontualidades tão vazias quando se percebe do tanto de possibilidades atraentes que perdemos sendo belas estátuas de mármore. Como ser desejado quando não se valoriza e deseja a si próprio? Aceite o que é bom... O que é bom não demanda padrões, não escolhe formas, é apenas ofertado. Você consegue ver minha mão? Estou aqui mesmo quando de sua desatenção, tête-en-l’air!

Se te ofereço isso por um lado, não espere que eu seja algo que não me é possível ser, que me sufoque ou que não permita meus e seus sonhos. Quais são as cores dos seus? Eu estou neles? Disseram que você deve ter caído do céu, será? Eu lhe ofereço meu céu, um que nunca caberá em um quarto e que será seu, se tiver a paciência de pintá-lo com suas belas cores que me fazem tão bem.
Porque aprendi a aceitar o que é bom, e pra mim, o que é bom é você. 

terça-feira, 23 de agosto de 2011




















e de um intervalo não preciso
me lembro das cores da cidade


***

320km daqui fui entender que Brasília é terra de muito pasto... e pouco rastro.

aventurai-vos!


domingo, 17 de julho de 2011

Ser Poeta...


Não, meu querido, não sei ser poeta...

Mas você gostaria de ser poeta?

Não... Não gostaria... Mas eu gostaria de ser cantor...

Mas as letras das músicas são escritas em versos, como vai fazer?

Por que tenho de escrever letras em versos? Não pode ser de outro modo?

Não conheço.

Existe música em prosa?

Não conheço.

Mas você não conhece nada, idiota!

Por que deveria?

Hum... Mas existe música em forma de cordel!

Cordel é poesia, depois eu que sou o idiota!

Ah...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

sem frescura















pra falar de dor
sem dramatizar
só sendo médico dotô
e olhe lá


***


broto,
chegou o café
daqui pra acolá é dois tempo, um, dois, pá
acho que poderíamos traçar parte desse caminho juntos
com tanta luz, melhor não esperar

liga pro zé
avisa o josé
é bom alguém saber onde a gente está




quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

vai que não é sua, razão
























encaracola
encaracolá-me em seus olhos
sem
por
em

com densos cachos
me equivoco
confundo dor
essa cor

me cega

um instante

não entendo
o que passou

desprego
esqueço meus restos
veto todo sou
te enxergo

não é tudo que eu quero
e que se dome o amor


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

De improviso para o incerto (ou, resposta a(o) pessoa)

a tudo que me entrego
daquilo que é incerto
sei desse subjetivo
um mole tão concreto

amo-o e tenho medo
tenho medo desses mares
tenho medo das correntes
amo e desdenho o incerto


o tempo me ocupou
o espaço se tomou

e então
o vento me levou

não sei porque
ainda não sei pra onde

vagueio

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

se me deixas em paz

insegurança
me segura
que eu não quero cair

a confiança passou por aqui
me enrolou pelo pé
e disse que não posso mais

pelo visto vou sair
me distrair
até te querer mais

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

todos diziam que era medo















quero casar-me com o vento
mesmo que seja pra contrariá-lo

na esquina
ao me ver passar
não repare
me prontei pra você

pronto
pra mais que um
-te amo-

pronto pra me deixar levar
mesmo que nenhum lugar

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sonhe, minha criança...


Escutava dia-após-dia o mesmo discurso, as mesmas promessas vazias, os mesmos acordos e alianças sórdidas. Tudo com uma nova roupagem que, como sempre, fugia ao que precisava ser feito e se atinha ao desnecessário. Há muito se envergonhava com tudo isto: uma linda imagem do resgate de bravos do sul emoldurada por uma ardilosa jogada política de massiva exposição dos governantes; em outro canto, a omissão de políticos em enfrentar as verdadeiras lutas levava-os, como sempre, a abaixarem suas cabeças e abrirem suas pernas em busca de seu lugar à sombra.

Sua vergonha perpassava por vários aspectos. Em cada recanto que observava, a corrupção estava presente em várias formas e níveis, ao mesmo tempo, seguia sendo profetizada a falácia que o país era laico, multirracial, pertencente a todos, que aceitava bem seus diferentes...

Perguntava-se o por quê que as máscaras nunca caiam, por quê que não jogavam direito, por quê que não eram Homens, por quê que não sangravam como todos os demais, por quê que essa sujeira nunca era lavada...

Sem mais o quê poder fazer nem ter um norte que seguir, sua solução foi ater-se aos seus princípios, retornar aos seus fundamentos, que aos olhos dos demais pareciam inocência ou fundamentalismo. Pensassem o que fosse, a verdade é que se cansara de tudo aquilo, não desejava mais essa imposição, decidira-se por um caminho quase esquecido, que não lhe permitiria ter companhia em sua escolha.

Jamais realizar concessões, jamais compactuar com os sórdidos, jamais aceitar a opressão e a ameaça, amar sua pátria, família e os seus; esses eram seus princípios básicos que por algum tempo foram deixados de lado em prol da idéia de que um mal menor seria melhor que um maior. Essa decisão apenas aumentou sua vergonha, pois naquele momento compactuou com o que sempre lhe pareceu errado. Mesmo um mal menor ainda é perverso e optar por essa via mais fácil é fraqueza, é fugir à luta, é fazer parte e promulgar o problema.

Decidiu dizer não a tudo aquilo, decidiu, por fim, diminuir e retornar ao que era, afastar-se das discussões vazias de significado, ater-se a uma existência mais humana sem os vícios que tanto lhe sopravam aos ouvidos oferecendo-lhe prazeres sem fim. De forma inesperada sabia dos riscos e da agonia de suas escolhas, uma vez que se auto-exilara. Por outro, lado sentia-se mais forte que nunca e finalmente suas possibilidades se tornavam mais que meros anseios pueris.

Ao mesmo tempo, algo mais se fazia presente em seus pensamentos, uma pequena voz a lhe sussurrar por detrás de todas as coisas que lhe tomavam todo seu tempo e energia. Os sussurros lhe pareciam incompreensíveis, pois havia tanto que fazer, nunca havia tempo para seus próprios tormentos. Por outro lado, quando parava com seus obrigações e finalmente sem perceber baixava sua vigília, os sussurros lhe cantarolavam algo que lhe remetia a algo elementar, algo que reconduzia a um princípio, uma renovação, algo mais simples e definitivo, alguma coisa a ver com purificação, algo a ver com...



Já em devaneio a pequenina voz em êxtase toma corpo, se apodera de sua consciência e lhe diz em um modo doce e sutil: é tempo de sonhar com fogo, minha criança!