segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Passagens


Por mais que houvesse forças que lhe impusessem um caminho que seguir, ainda assim buscava por uma vida possível, que cumprisse com suas obrigações, mas que não fosse roubado o tempo de ser ela mesma. Podia suportar quase tudo, menos abrir mão de ser quem era. Não que fosse alguém importante, mas se o percurso para se tornar algo ou alguém levasse a uma omissão ou negação de si, significaria que esse destino não era digno de ser trilhado.

Desejava ser vista como uma princesa de um reino só dela, mas se esquecia de ou não sabia se vir como tal. Fazia os pedidos mais impossíveis, mesmo sabendo que nada é tão simples e que o almejado nunca vem apenas com uma faceta. Queria se apaixonar novamente, ter alguém para caminhar ao seu lado, mas sempre lhe parecia que os antigos erros e escolhas voltariam a aparecer.

Não desejava permanecer ali por muito mais tempo. De algum modo, algo a impelia a seguir, a não fixar raízes, a não se aproximar. Nunca explicara seus reais motivos. Nunca dissera por que veio. Sua própria presença era um mistério. Talvez seus motivos fossem insignificantes, talvez revelassem tudo. O fato é que não havia como lhe acompanhar. Estava sempre um passo à frente, sempre com o escudo levantado, sempre preferindo a distância. 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Então me lembro daqueles grandes, redondos e manhosos olhos.


Quando os sons das palavras não ditas me impelem às linhas um sussurro se faz presente: aceite o que é bom... 

Às vezes é tão difícil se ater a isso...

Mas então me lembro daqueles grandes, redondos e manhosos olhos tão lindos pedindo por atenção... Nada parece mais óbvio. Minha mão está estendida e a decisão tomada. Não é algo para se arrepender ou que demande um grande esforço ou valor a ser pago, basta permitir-se. Mas ainda assim, é um caminho complicado até esse ponto do permitir-se.

Muitas pessoas se escondem atrás de uma imagem que desejam transmitir ou em suas obrigações como bom funcionário, pessoa ética e moral. Pontualidades tão vazias quando se percebe do tanto de possibilidades atraentes que perdemos sendo belas estátuas de mármore. Como ser desejado quando não se valoriza e deseja a si próprio? Aceite o que é bom... O que é bom não demanda padrões, não escolhe formas, é apenas ofertado. Você consegue ver minha mão? Estou aqui mesmo quando de sua desatenção, tête-en-l’air!

Se te ofereço isso por um lado, não espere que eu seja algo que não me é possível ser, que me sufoque ou que não permita meus e seus sonhos. Quais são as cores dos seus? Eu estou neles? Disseram que você deve ter caído do céu, será? Eu lhe ofereço meu céu, um que nunca caberá em um quarto e que será seu, se tiver a paciência de pintá-lo com suas belas cores que me fazem tão bem.
Porque aprendi a aceitar o que é bom, e pra mim, o que é bom é você.